terça-feira, 23 de agosto de 2011

Em algum boteco de beira de esquina, dois amigos conversavam:
-Cara, eu não entendo! Por que ela acabou contigo? Você era tão tolo, tão dela e ainda sim ela te deixou. Percebe? Essas mulheres são loucas.
-Não! De forma alguma, nós que somos, na verdade, eu que sou.
-É você tá louco mesmo, só pode, pra andar dizendo tamanho absurdo. Mas por que você tá tão calmo, nem vai ao menos correr atrás?
-Eu já o fiz. E de nada adiantou, ela sempre soube muito bem o que quis. E o que não quis. Eu que sempre me limitei a ela.
-Estás vendo? Por isso que nunca me limitei, como diz você, a nenhuma delas. É sempre assim, a gente se entrega, se faz melhor, abandona as antigas manias e faz de tudo por elas, mas aí que como de deboche do destino, aparece um outrem mais medíocre que um dia nós já fomos e elas nos deixam, sem dó. Aí você fica deprimido, perdendo sua noite com um barbudo. Injusto isso.
-Para! Você não sabe o que diz. Aliás, talvez saiba, talvez até tenha razão, mas o amor não é um jogo de cartas marcadas, meu caro. Eu ter mudado, ter me feito melhor e tudo mais, não tem nada a ver com ela ficar comigo ou não. Eram falhas que eu deveria corrigir por mim, e nunca por ninguém. Nem por ela. Ela me deixou, simplesmente porque não estava feliz na minha companhia. Eu demorei, mas percebi isso. Como você disse, eu era tão dela, que na minha cabeça imaginei a recíproca como sendo verdadeira. Quando na verdade, sempre fui tão meu, e apenas meu, que meu egoísmo me impediu de perceber que eu nunca fui dela, e ela nunca foi minha; apenas tínhamos lacunas que preenchíamos mutuamente. O triste é que relacionamentos não são palavras cruzadas, meu amigo. Foi natural o fim.
-Pare você! Nunca vi alguém tão conformado depois de um pé na bunda. Acho graça de você, seu tolo. É sério que você a ama?
-Seríssimo! Eu nunca me dei conta, só agora. Sabe, é fácil ter e gostar do que se tem, mas só quem ama mesmo, consegue deixar isso partir.
-Nossa pura poesia, você. E vais fazer o que agora; deprimir, beber litros e cortar os pulsos?
-Não sei.
-Deveria saber né?
-Não, como ela que sempre soube o que quis, eu não. Ela sempre foi a mais verdadeira, a mais correta. Acho que ela levou nas costas esse relacionamento. E eu sempre ao redor dela, acho que até pensar por mim ela pensava. Eu não sei como é ser sem ela. Eu não sei como é ser eu.
-Então comece por aí.
-Por onde?
-Sendo mais você.



Nayara Alexandra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário