sábado, 29 de dezembro de 2012

(des) Complica, mulher!



Na tentativa vã de manter tudo sob controle, tinha se tornado uma pessoa complicada. 
Complicada do tipo que inventa problemas e "ses" até pra coisas banais do seu dia.
Por exemplo: era de se admirar quem resistia incólume a uma tarde de compras com ela, pois era massacrante assistir tamanha demonstração de indecisão em uma só pessoa: se não era a cor que não agradava, era o tamanho, se tinha o tamanho adequado, a cor não combinava com seus sapatos e bolsas, e por aí vai.
O pior, que assim como com roupas era pra vida. E não negava, acho que no fundo já era uma marca da sua personalidade. Quem a conhecia já sabia: "Lá vem a menina complicada."
Mas no fundo, bem no fundo mesmo, talvez só ela entendesse o porquê daquilo tudo. O que pra os outros parecia simples 'cricrizesse", para ela nada mais era que autodefesa. Pois é. Na sua cabecinha complexa, acreditava que só depois de analisar metodicamente todas as opções e ponderar sobre o que teria ou não condições de lidar, que poderia enfim tomar um partido. E vale ressaltar que isso servia pra roupas e pessoas. Era seu jeito de se precaver, de prevenir futuras frustrações e perdas de controle. Pois tocamos em outro ponto notável da sua personalidade: ela tinha quase que fobia de não ter o controle, de ser surpreendida. Ou melhor, o que lhe causava vertigens, eram coisas à toa, mal feitas. Tudo o que tocasse tinha que ser impecável, o que justifica tanta "complicação". Ao menos na sua cabeça, isso fazia todo o sentido, o fato é que há muito tempo já havia desistido de tentar convencer os demais ao seu redor. 
Talvez você se pergunte: E assim tão complicadinha, ela deixava espaço pra ser feliz?
Provavelmente a moça responderia:
-Lógico, vivo bem com meu autocontrole, gosto das coisas corretas. Não lido bem com surpresas, assumo. Porém o que você chama de complicação, eu chamo de organização sentimental. Não admito na minha vida a tomada de decisões inesperadas, movidas por impulso, não posso agir assim, não sou impulsiva. Não vou agir contra minha natureza, nem por você, nem por ninguém. Por isso, mesmo que aos seus olhos, eu pareça reprimida e complicada, aqui dentro sei que estou fazendo todo sentido. E tenho dito.

Agora, o que não se sabe, era se a moça, de fato, tinha êxito na sua metodologia de vida. Se assim sem se surpreender, sem se deixar levar, vez ou outra, pelo o acaso e vivendo assim, com todos os pingos de seus "is" no lugar, se ela conseguia ser feliz, ou se estava plenamente satisfeita com o que tantinho que deixava a vida lhe dar todos os dias. Será que ela mesma sabe a resposta?

-NayaraAlexandra
Ps: Inspirado na vida de outrem, o que não dizer que não há alguma semelhança com a vida da maluca que vos fala.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Não - declaração de amor

Estavam completando mais um mês juntos, ela sabia que era péssima com presentes, cartões e todas essas coisas "cuts" que normalmente os casais fazem, porém queria de coração que dessa vez conseguisse transmitir tudo o que sentia, pra isso, "ganhou" algumas horas em frente ao computador ponderando sobre as melhores palavras para destinar ao seu amado. No fim, não tinha certeza se ficou "bonitinho", mas estava plenamente certa que foi o melhor e mais sincero que podia ter feito:

"Eu necessito de você na minha vida não porque sou incompleta e vejo em você a metade da minha laranja, ou a solução de todos os meus problemas, não. Eu necessito de você porque o que vejo, na verdade, são duas pessoas extremamente cheia de defeitos e inseguranças, mas que construíram uma forma bastante satisfatória de lidarem com isso juntas. Desse modo, percebi que para que você me aceitasse e admirasse, não era necessário que eu fosse a mais perfeita, a mais dócil e meiga. Longe disso, passei a te admirar justamente por compreender que mesmo nos momentos que sou, e isso eventualmente acontece, irascível, "marrenta" e indelicada, eu não deixo de ser eu mesma, e que são sintomas de que algo errado está se passando aqui dentro. E isso é mais um motivo para prezar pela sua presença em minha vida: o fato de não me julgar, por entender que já estou calejada de cobranças e julgamentos, ao invés disso me oferece seus olhares sempre acolhedores. O seu olhar é outra coisa que tenho gosto de ver, pois geralmente me mostra o que preciso ver, ou serve apenas pra repreender quando eu mereço.
Falando em sentidos, me fez lembrar da sua voz. Pois é, eu gosto dela. É firme quando tem de ser, mas sabe muito bem ser suave e da tonicidade que consegue me fazer calar, apenas pra ouvi-la. E confesso que não sou uma boa ouvinte, que falo muito mais do que preciso, porém, você de um jeito que não compreendo bem, consegue achar sentido no turbilhão de coisas que te bombardeio todos os dias.
Acho que acima de tudo, gosto de como nos relacionamos, porque você não faz nenhuma cerimônia em apontar meus erros. Contudo, depois de um tempo, me dei conta que essa foi a melhor forma de estimular a    evoluir, mais que isso, que meus erros são completamente banais, podem muito bem serem evitados. E você talvez ainda não saiba, mais conta muito mais pontos comigo quem consegue olhar nos meus olhos e me apontar meus erros, do que quem perde um ou dois minutos do dia me elogiando a toa, mas você, com seu jeitinho, achou uma forma de fazer ambos sem conseguir me tirar do sério.
Bom, tudo isso, ao contrário do que pode parecer, não foi uma declaração de amor. Não. O conceito que tenho de uma declaração é de algo que precisa ser feito para validar alguma coisa, nesse caso, um sentimento. E não acho que é esse meu propósito. Não preciso disso para validar o que eu sinto, acho que o faço diariamente, por pequenos gestos, palavras. Além do mais,muitas das declarações de amor que vejo por aí,giram em torno de sentimentos tão "plásticos", tão puros e perfeitos, e como você já deve saber a essa altura, eu ignoro coisas que tendem a perfeição.
Esse é afinal, a maior qualidade da nossa relação, a sua imperfeição, justamente porque assim sendo, abre-se  um mar de novas possibilidades para evoluirmos, nos tornarmos melhores para o mundo e um para o outro. 
Finalmente, queria deixar claro que  o que sinto por você é sincero, que é o melhor que consigo ser, e que me faz feliz, e espero que seja da mesma forma pra você. Por isso, um simples "eu te amo", ao meu ver, seria bastante limitado. Pois te lançar essas três palavras nos braços é bastante fácil, o complexo, porém bem mais prazeroso é ir descobrindo novas formas de senti-lo cotidianamente. E tenho dito."

-NayaraAlexandra.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

No plans.


Decidida a viver um dia de cada vez, precisava aprender a parar de pensar no dia de amanhã.
Era uma marca incontestável da sua personalidade: sofrer de véspera. E já estava cansada da expressão séria e sabichona dos mais de 4 psicólogos que em vão consultou, ao dizerem que ela sofria de um Transtorno de ansiedade qualquer, pois achava que sua insatisfação e desequilíbrio emocional eram demasiadamente complexos pra caberem em duas palavras tão amplas. Na verdade não sabia nem se era desequilíbrio ou pura desculpa mesmo. Pois é, era mais fácil atribuir a qualquer desordem mental a culpa pelos fracassos da sua vida do que assumir que errou por incompetência ou preguiça, ou qualquer um desses defeitinhos banais que ela escondia. Isso de esconder me lembra que ela por si só era bastante reprimida e controlada. Ou ao menos, gostava de achar que tinha o controle. Funcionava assim: Não gostava da rotina, porém antes de inovar calculava várias rotas de possíveis mudanças, só pra ter certeza que não seria surpreendida por si mesma ou pelos os outros. Não contava com o acaso. Tinha um medo mortal de ser pega desprevenida. A coisa era tão séria que não admitia que algo inesperado lhe ocorresse, lógico que não. Não admitia que o destino tomasse as rédeas da sua vida. Verdade mesmo, é que ela acreditava para caramba nele, no destino, mas a ideia de algo que não fosse ela mesma que criasse ou alterasse a sua simples vidinha lhe assustava tremendamente. Porém, estava progredindo nesse sentido; vez ou outra se entregava ao que aparecia na sua frente sem reservas, às cegas, pra sentir a sensação que era forte o suficiente pra quebrar suas próprias regras. E não é que conseguia? Que ao menos de vez em quando, agia sem planos, sem roteiros. E mesmo negando por um tempo, era mais feliz nesses dias. Nos dias que não esperava quase nada, mas que acabava recebendo tudo que precisava. Nesses dias atípicos para alguém de seu feitio, ela costumava parar pra pensar, pensar se conseguiria ter mais dias como esses, sem planos, sem restrições. O fato é que não se sentia pronta pra mudar, que toda e qualquer mudança a acoava, que acostumou-se a primeiro planejar, calcular e por fim, por em prática a decisão que julgava mais segura. Mas haviam esses dias estranhos, dias mais coloridos, em que ela deixava de lado todos os medos, todos os planos e vivia. Vivia não mais de acordo com seus planos, mas de acordo com seus sentimentos. Em tempos assim não tinha garantia nenhuma que tudo iria dar certo ou de que não fosse sofrer/fazer sofrer, contudo era apenas nesses dias que se sentia de verdade, que sentia que definitivamente tinha vindo para vida para fazer muito mais do que apenas viver, e que a vida volta e meia podia lhe agraciar com uma boa surpresa.
-Nayara Alexandra.


"A vida é o que lhe acontece, enquanto você está ocupado fazendo outros planos" (John Lennon)


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

E trate de parar de pensar que a vida é como projeto arquitetônico, pontinho nos "is", com medidas equivalentes e correspondência entre lados, ângulos e tudo mais que soa perfeito.
Não, meu amigo. A vida tá mais pra aquele filme de terror bem meia-boca, mas que você continua assistindo só pra ver se se assusta ou morre de rir das cenas de suspense mal produzidas. 
NayaraAlexandra.
















"Faço menos planos e cultivo menos recordações. Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço. Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve, alcanço seus limites com as mãos, é nele que me instalo e vivo com a integridade possível. Canso menos, me divirto mais, e não perco a fé por constatar o óbvio: tudo é provisório, inclusive nós."
Martha Medeiros

                                                          

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

"...essa moça tá diferente." ♫



Quem a vê agora, expansiva e sorridente, talvez não desconfie que em outros tempos limitava-se a meios sorrisos e a falar só se falassem com ela. Agora no entanto, falava só por falar, porque já não ficava mais a vontade com o silêncio.
Quem a olha agora, segura e decidida, talvez não desconfie que no fundo ainda traga consigo uns restinhos de insegurança, umas pontinhas que sejam de covardia, e aquele medo sempre presente de errar. Contudo, a moça de agora parece ter aprendido que seus erros tinham mais a lhe ensinar do que a punir.
Quando se olha pra ela nesses dias, vê-se que irradia uma confiança diferente, uma certeza. O que não sabem, no entanto, que lá no fundo, era mais em si mesma que ela confiava desde então, que quando começou a perceber que nem sempre outrem condizia com tudo aquilo que ela imaginava, notou que ela mesma inspirava bastante confiança, e seguiu mudando.
E agora, quando se olha pra ela, já dá pra notar mesmo sem quem querer, que a moça está feliz. Não aquela felicidade programada que teimava em expor pra o mundo, mas com aquela felicidade genuína, de quem é feliz mesmo, sabe?
E que agora, ao contrário de outros carnavais não se via mais a moça pelos cantos, sozinha, perdida nos seus próprios dilemas. Não, quem olha pra ela agora já nota mais cor, mais companhia, mais barulho. Pois como foi dito, faz tempo que o silêncio deixou de ser seu fiel companheiro.
E ainda assim, tem gente que ainda olha desconfiado, especula, faz hipótese. Tentando acertar bem na mosca que "diacho de coisa que foi essa" que mudou a moça desse jeito: pensam em amor novo, em simpatia, dinheiro entrando e por aí vai. Os mais ousados às vezes até perguntam, a moça-mudada-feliz com o seu novo sorriso sorrateiro-misterioso, responde prontamente:
- Bem, acordei um belo dia e percebi que algo ao redor estava diferente, que tudo tinha cor, tinha cheiro, tinha vida. E aí me dei conta que talvez,  era aqui dentro de mim que estava tudo em escalas de cinza, que estava tudo inerte. E a duras quedas fui me convencendo que para que olhassem de forma diferente pra mim, pra que notassem que eu estava por ali, e que aquele mundo colorido também me pertencia, tinha que aprender primeiro a me olhar no espelho. Me aceitar assim, incompleta. Porém, única. Errante, porém, passível de mudanças. Nesse instante, ao olhar no fundo dos meus próprios olhos, descobri que a chave e o agente transformador para minha felicidade estava bem ali, bem na minha frente. E tenho dito.
-NayaraAlexandra.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

...e a mentira?

Em uma conversa banal de pai pra filho:
-Pai, a gente pode mentir?
- Poder até pode, mas não deve, meu filho.
- Por que?
-Porque por pior que sejam as coisas as pessoas tem o direito de saber a verdade e também não é certo ganhar alguma coisa por causa de uma mentira.
- Então quem mente é ruim?
- Nem sempre, ás vezes a gente fica com medo e acha que a mentira pode machucar menos que a verdade.
- E dá certo, as pessoas ficam sem machucar, papai?
-Olha, a gente até acha que sim, no começo, mas é que nem uma barreira bem fininha contendo uma cachoeira: até resiste um pouco, mas quando a barreira se rompe, toda aquela água acumulada pode passar levando tudo com ela. 
- Então o que senhor quer dizer que a mentira só serve pra segurar uma coisa que vai doer de qualquer jeito, mas que a gente guarda e quando solta dói mais ainda?
- É meu filho, é por aí.
-Então não vou mentir nunca!
-Bom, meu filho, quando você crescer vai perceber que ás vezes a gente mente, mesmo sabendo que é errado.
- Ué, papai e como fica?
- Bom, a essa altura você também vai ter crescido o suficiente pra aprender que quando isso acontece a gente tem que ser muito forte e arcar com as consequências das nossas mentiras, e que quando a gente sabe que não vai conseguir a única saída vai ser sempre a verdade, por mais dolorida que ela seja.

-nayaraalexandra

domingo, 2 de dezembro de 2012

Pensar-escrever.

Conversa vai, conversa vem...
-E por que você escreve?
-Porque achei o caminho mais fácil pra mostrar como me sinto.
-Caminho, como assim?
-Percebi que a linha pensar-escrever é mais confiável que a linha pensar-falar. A boca sempre distorce o que a gente pensa, as palavras não. Portanto, não usar a boca na hora de externaliza-las tem sido mais verdadeiro pra mim.
-Verdade, as palavras nunca mentem. Mas como vou saber o que escrever?
-Simples, feche os olhos, esqueça pudores, preconceitos ou temores, que tudo que vier depois vai ser verdade, vai ser seu. 
-NayaraAlexandra

ps: inspirado em uma conversa que de fato aconteceu.

Tem que ter retorno.



Porque por mais que glorifique e seja bonita a ideia, tem uma hora que o amor tem que ter retorno.

Isso mesmo, tem que ser dado e recebido de volta.
E quando digo amor, falo dele em todas as instâncias: amor amigo, amor irmão, amor materno, amor paterno, amor-amor, amor de qualquer jeito, qualquer cor, raça e opção sexual.
Não espero nem que seja na mesma proporção, mas se volta um pouquinho, o suficiente pra fazer a "roda girar", tá valendo.
Porque tem umas horas que a gente cansa de cuidar, cansa de se preocupar, cansa de correr atrás. 
E espera nesse instante, que tudo que foi dado um dia, retorne pra si. Pode parecer egoísta, mas depois de Jesus Cristo, acho que mais ninguém amou já esperando conformado pela cruz. Não, na realidade o que a gente quer é ser amado, ser cuidado, mesmo que passe um tempo considerável dizendo pra si mesmo que não se importa, que está feliz em amar de graça. 
Bom, o pior é que uma hora bate o cansaço, o desânimo, começa a doer amar assim. Amar sem retorno.
E nos restam duas saídas: Ou continuamos amando e acostuma-se com o incômodo, fazer o que. Ou se sai pra vida e liga-se o "Tô nem aí" em modo automático, e para-se de preocupar.
É tudo uma questão de escolhas nessa vida. Menos amar, amar não se escolhe. Você pode bancar o forte, engolir a seco, mas não deixa de sentir, a questão é como você sente, sentimentos não acabam simples assim, se transformam, apenas.
NayaraAlexandra.





"Como as plantas, a amizade não deve ser muito nem pouco regada."
 -Carlos Drummond de Andrade