sábado, 25 de agosto de 2012

Felicidade em fascículos?


Os famosos "Best-Sellers" de auto-ajuda estão cansados de te dizer que você deve ser mais você,mais seguro, mais "gostoso", mais paciente...mais perfeitamente feliz.
Só que às vezes, o que a gente quer, mas quer mesmo bem lá no fundo... é só ser inseguro, menos paciente, menos feliz?
Sabe por que? 
Porque inconscientemente, o que a gente precisa é de um espaço pra algo ou alguém nos mostrar a segurança, nos mostrar a paciência.
Não estou dizendo pra sermos dependentes dos outros, e coisa e tal.
Estou dizendo que nesse mundo enorme e maluco, não seríamos tão felizes assim, sem nos conectarmos, sem, nem que seja de vez em quando, tirar a armadura que a gente lustra todo dia, e chorar na frente "daquela" pessoa só pra ganhar um abraço. É descer do salto, pelo menos uma vez, e ter coragem de admitir que pisou na bola. É não ter vergonha de dizer que precisa de ajuda. 
Enfim, é compreender que o ser humano, aqueles de verdade, não os da tv, não são e nunca serão perfeitos, não são e nunca serão totalmente seguros, não são pacientes 100% do tempo e não são tão completos como pensam que são.
E aí, é nessas horas que há  escolhas a se fazer: levantar a cabeça, espanar a poeira e abrir o coração, abrir sem medo: sem medo de amar, sem medo de não ser correspondido, ligando o foda-se pra todos os avisos de perigo e sendo assim, imperfeitamente feliz... ou se trancar dentro do quarto e de si mesma, achando que a felicidade se vende em fascículos, ficando orgulhoso porque aquele livro que traz a fórmula mágica virou um best-seller pra tentar esconder que a sua vida segue,assim: sem graça, sem decepções, sem surpresas nem grandes emoções... perfeitamente infeliz.
-NayaraAlexandra

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Desapego?


 Era difícil de lidar...não, não é que fosse antipática, antissocial, antiafeto, anti qualquer coisa. Não, só era do tipo de pessoa “guardada”. 
Você pergunta “guardada de quê?”. Guardada do mundo, guardada da decepção, guardada do amor.
 Era daquelas que não confiava em ninguém, nem em si mesma. Só dava bom dia séria pra ninguém achar que queria criar um vínculo. Agora me digam: ela não sofria, não se decepcionava, não criava vínculos, então assim, sem sofrer, sem se decepcionar, sem se apegar, ela era feliz?
“-Não, ela passava pela vida sem viver.” Era o que diziam dela.



NayaraAlexandra.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Aquele não sei o quê.

E tem uns dias, desses até bem comuns:
Sem chuva, mas também sem muito sol, meio parado mesmo, 
mas que por dentro da gente tudo se move. 
E a gente não sabe por que tanta danação, tanta impaciência.
Surgem teorias: amor novo, problema de família, coisas demais na cabeça pra se fazer e por aí vai...
Mas na verdade nem a gente sabe, o porquê do reboliço.
Só sabe que invade, e que contagia.
É um tique ali, um tropeção aqui,  objetos derrubados de um lado...
Enfim, é a estranha forma de mostrar pra o lado de fora o que tá "pegando" por dentro.
Esperando talvez, que a sensação passe, que tudo se abrande, se acalme
E que a gente descubra, nesses dias tão normais, o que é aquele não sei o quê que a gente sente
Que depois de muito pensar e questionar,
A gente finalmente perceba que isso tudo que parece de momento, sempre esteve com a gente
Que normal mesmo, é ser todo revirado por dentro
Que isso de sentimentos bonitinhos, organizadinhos e com nome pré-definido não existe.
Que o que nos move, é sempre a bagunça, o que a gente sente sem controle, tão sem controle que as represas do lado de dentro um dia não aguentam, e tudo fica exposto, fica vivo, de verdade.
Que de fato, é de vários "aquele não sei o quê que me dá" que se vive a vida.
-Nayara Alexandra.

Louco, eu?


Havia um "louco", desses bem lélés, daqueles de pedra, como diz a história.
Perguntaram pra o louco, por que ele estava no hospício, ele, malandro em dar respostas rápidas e convincentes, respondeu logo:
- Porque aqui é de verdade!
-Como assim é de verdade?
-Aqui, eu não sou louco. Aqui, os outros não me olham como louco. Eu sou mas um, igualzinho a eles.
Aqui eu não preciso ser hipócrita. Sabe, houve uma época que eu podia viver nesse seu mundo perfeitamente, me passar por um de vocês numa boa. E dizia pra mim mesmo que era o certo, que deveria seguir as convenções e tudo mais. E pasme, tem muita gente solta do seu lado, que continua assim. Mas depois de um tempo, depois de ver o que vocês,pessoas sãs, são capazes de  fazer, me assustei. Me assustei com a ideia de me tornar um de vocês. Preferi, ser o que com tanto pesar reprimia, me transportei para meus próprios mundos, onde eu sou que eu quero ser, mas sou sempre de verdade.
Por isso, não me julgue. Que olhando do meu ponto de vista, o louco aqui é você.
-NayaraAlexandra
                                                      


"A loucura é vizinha da mais cruel sensatez. Engulo a loucura porque ela me alucina calmamente."
-Clarice  Lispector

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A entrevista.

A jovem garota de roupas simples e leves, porém harmoniosas com seu jeitinho dócil e meigo.
Ela estava nervosa. Muito nervosa. Não pelo seu currículo, isso não. Tinha todos os atributos necessários pra o cargo, mas aquela frase a perseguia: "- Me fale sobre você."
Desde de pequena, mesmo se tornando uma mulher madura, interessante e até de se chamar uma atençãozinha quando passa pela rua, ela nunca se deu bem com ela mesma, nunca soube falar mais de duas frases sobre aquele ser estranho que andava com ela todos os dias.
As três primeiras candidatas já haviam saído, ela sabia que era a próxima.
E era mesmo. Ouvir seu nome ser anunciado pela sala foi uma mistura de um monte de coisas que ela não teve tempo pra pensar, mas sentiu tudinho mesmo assim.
O que veio a seguir, foi clichê: o futuro (ou não) empregador olhando seu currículo, fazendo alguns elogios desnecessários sobre o que ele via por lá, aquela olhadinha básica pra moça pra ver se ela tinha cara de ser "uma pessoa normal" (?), mas tinha algo levemente diferente: O senhor ali na frente, ela sentia que ele olhava de verdade pra ela, sabe? Querendo ver por dentro. Ela quase se dava ao luxo de pensar que ele a deixava confortável, mas passado alguns minutos ela teve certeza que era isso mesmo, ele parecia ser um bom homem, do tipo que enfrentou muita coisa pra chegar onde está, e que sabia reconhecer um semelhante seu no meio da multidão. Ela chegou a pensar que em algum momento ele dizia com os olhos: "Se acalme moça, pra que tanta aflição? Você sabe que vai conseguir."
Será que ele disse mesmo isso? Ou era uma ilusão do seu nervosismo? Não importa, porque agora era o momento que ela tanto temia.
- Me fale um pouco sobre você.
E então percebeu que não sabia absolutamente o deveria dizer em seguida, mas tinha toda certeza que o que falasse seria verdade. Não sabia se foi a calma do senhor que a recebeu, ou se a dela mesma que começava a brotar de algum lugar dentro dela que ela desconhecia, mas ela não estava mais nervosa e falou, falou com o coração, porque aboca estava seca e travada:
- Então, sabe aquela moça que gosta de um sorriso aberto, mas gosta muito mais de quem arranca esse sorriso dela, e que gosta de dormir cedo e acordar cedo pra o dia render mais, e que às vezes só pra sentir que é radical mistura o doce com o salgado, e que nunca entra numa disputa pra ganhar, não, entra pela disputa mesmo, adora a adrenalina, e às vezes ganha. E confesso, pra o mau estar dos meus ouvidos, que sou viciada numa música alta, naquele nível que me tira do mundo. E confesso também que acho os homens bastante interessantes...também. Hum, e que eu sonhava bem mais quando eu era pequena, hoje em dia passo semanas sem sonhar e isso me frusta. E que tenho um medo horrível de fracassar, e por muitas vezes me acovardo e me envergonho disso. E que há alguns minutos atrás, eu estava temendo esse minuto de agora, mas agora ele chegou e eu não sei o que esperar dele, e eu odeio não ter tudo planejado, não acredito no acaso e acho que tudo é bonito demais pra ser fruto de coincidências. E sou aquela que está aqui, totalmente desarmada, confiando seu futuro profissional e a realização de alguns dos sonhos que tinha quando era pequena e sonhava mais, e que sabe que pode fazer um bom trabalho se a deixarem entrar, porque se preparou pra isso a vida toda, e sabe que vai conseguir, pois até hoje ela não sabia, mas sempre "se acreditou" .Hoje finalmente, ela gritou isso pra si mesma, bem alto.
O senhor a fitava sério, pensativo, sem nenhum ar de surpresa na face. Passaram-se cerca de dez segundos, que pra ela pareceram  dez horas.
Pra acabar de vez com aquela angústia, calmamente ele se manifesta.
- Então, eu sou aquele homem que vai acreditar na moça. E pedir pra que ela grite bem alto, pra que ele e o mundo possam ouvir.


NayaraAlexandra.