quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A entrevista.

A jovem garota de roupas simples e leves, porém harmoniosas com seu jeitinho dócil e meigo.
Ela estava nervosa. Muito nervosa. Não pelo seu currículo, isso não. Tinha todos os atributos necessários pra o cargo, mas aquela frase a perseguia: "- Me fale sobre você."
Desde de pequena, mesmo se tornando uma mulher madura, interessante e até de se chamar uma atençãozinha quando passa pela rua, ela nunca se deu bem com ela mesma, nunca soube falar mais de duas frases sobre aquele ser estranho que andava com ela todos os dias.
As três primeiras candidatas já haviam saído, ela sabia que era a próxima.
E era mesmo. Ouvir seu nome ser anunciado pela sala foi uma mistura de um monte de coisas que ela não teve tempo pra pensar, mas sentiu tudinho mesmo assim.
O que veio a seguir, foi clichê: o futuro (ou não) empregador olhando seu currículo, fazendo alguns elogios desnecessários sobre o que ele via por lá, aquela olhadinha básica pra moça pra ver se ela tinha cara de ser "uma pessoa normal" (?), mas tinha algo levemente diferente: O senhor ali na frente, ela sentia que ele olhava de verdade pra ela, sabe? Querendo ver por dentro. Ela quase se dava ao luxo de pensar que ele a deixava confortável, mas passado alguns minutos ela teve certeza que era isso mesmo, ele parecia ser um bom homem, do tipo que enfrentou muita coisa pra chegar onde está, e que sabia reconhecer um semelhante seu no meio da multidão. Ela chegou a pensar que em algum momento ele dizia com os olhos: "Se acalme moça, pra que tanta aflição? Você sabe que vai conseguir."
Será que ele disse mesmo isso? Ou era uma ilusão do seu nervosismo? Não importa, porque agora era o momento que ela tanto temia.
- Me fale um pouco sobre você.
E então percebeu que não sabia absolutamente o deveria dizer em seguida, mas tinha toda certeza que o que falasse seria verdade. Não sabia se foi a calma do senhor que a recebeu, ou se a dela mesma que começava a brotar de algum lugar dentro dela que ela desconhecia, mas ela não estava mais nervosa e falou, falou com o coração, porque aboca estava seca e travada:
- Então, sabe aquela moça que gosta de um sorriso aberto, mas gosta muito mais de quem arranca esse sorriso dela, e que gosta de dormir cedo e acordar cedo pra o dia render mais, e que às vezes só pra sentir que é radical mistura o doce com o salgado, e que nunca entra numa disputa pra ganhar, não, entra pela disputa mesmo, adora a adrenalina, e às vezes ganha. E confesso, pra o mau estar dos meus ouvidos, que sou viciada numa música alta, naquele nível que me tira do mundo. E confesso também que acho os homens bastante interessantes...também. Hum, e que eu sonhava bem mais quando eu era pequena, hoje em dia passo semanas sem sonhar e isso me frusta. E que tenho um medo horrível de fracassar, e por muitas vezes me acovardo e me envergonho disso. E que há alguns minutos atrás, eu estava temendo esse minuto de agora, mas agora ele chegou e eu não sei o que esperar dele, e eu odeio não ter tudo planejado, não acredito no acaso e acho que tudo é bonito demais pra ser fruto de coincidências. E sou aquela que está aqui, totalmente desarmada, confiando seu futuro profissional e a realização de alguns dos sonhos que tinha quando era pequena e sonhava mais, e que sabe que pode fazer um bom trabalho se a deixarem entrar, porque se preparou pra isso a vida toda, e sabe que vai conseguir, pois até hoje ela não sabia, mas sempre "se acreditou" .Hoje finalmente, ela gritou isso pra si mesma, bem alto.
O senhor a fitava sério, pensativo, sem nenhum ar de surpresa na face. Passaram-se cerca de dez segundos, que pra ela pareceram  dez horas.
Pra acabar de vez com aquela angústia, calmamente ele se manifesta.
- Então, eu sou aquele homem que vai acreditar na moça. E pedir pra que ela grite bem alto, pra que ele e o mundo possam ouvir.


NayaraAlexandra.


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